quinta-feira, 27 de maio de 2010

Um círculo vicioso mortal, por Leonardo Boff da Comissão da Carta da Terra:



Prestem atenção nesse cara:

Estamos todos sentados em cima de paradigmas civilizacionais e econômicos falidos.

É o que nos revela a atual crise global com suas várias vertebrações. Nada de consistente se apresenta como alternativa viável a curto e a médio prazo. Somos passageiros de um avião em vôo cego. O que se oferece é fazer correções e controles à la Keynes, que, no fundo, são mudanças no sistema, mas não do sistema!

É esse sistema que comparece como insustentável, incapaz de oferecer um horizonte promissor para a humanidade.

Por isso, a demanda é por um outro sistema e um outro paradigma de habitar esse pequeno, velho, devastado e superpovoado planeta. É urgente porque o tempo do relógio corre contra nós e temos pouca sabedoria e parco sentido de cooperação.

Estamos, pois, enredados num círculo vicioso letal. Dois impasses estão à vista, gostem ou não os economistas, “os salvadores” do mundo: um humanitário e outro ecológico.

E aqui estamos nós, Sr. Boff, os voluntários chegaram e muitos ainda virão. Nós ouvimos, abaixamos a cabeça e estamos trabalhando com determinação e com muita esperança.

Os problemas que iremos enfrentar, segundo Boff:

Limite é de natureza ética:

“A consciência planetária, surgida à deriva da globalização, suscita a pergunta: quanto de inumanidade e de crueldade agüenta o espírito humano ao verificar que 20% das pessoas consomem 80% de toda a riqueza da Terra, condenando o resto à cruz do desespero, encurralados nos limites da sobrevivência? Esta aceitará o veredicto de morte sobre ela? Ela resiste, se indigna e, por fim, rebelará por instinto de sobrevivência. O ideal capitalista de crescimento ilimitado num planeta limitado parece não ser mais possível ou só sob grande violência.”

Limite Ecológico:

“O capitalismo criou a cultura do consumo e do desperdício cujo protótipo é a sociedade norte-americana. Generalizar essa cultura – cálculos já foram feitos – precisariam de duas ou mais planetas Terra, o que torna o propósito irrealizável.

Por outro lado, encostamos nos limites dos recursos e serviços da Terra e os ultrapassamos em 40%. Todas as energias alternativas à fóssil, mantido o atual consumo, atenderia somente 30% da demanda global. Como se depreende, desse mesmo modelo, somos um sapo sendo lentamente cozido sem chances de saltar da panela.”


Há esperanças. Há três propostas criativas: a da economia solidária que não mais se guia pelo objetivo capitalista da maximização do lucro e de sua apropriação individual. (que é onde nós entramos, galera!). A do escambo com moedas regionais. A terceira é a biocivilização e da Terra da Boa Esperança, do economista polonês que dirige um centro de pesquisa sobre o Brasil em Paris: Ignacy Sachs. Ela confere centralidade à vida e à natureza, tendo o Brasil como o lugar de sua antecipação!

As três são possíveis, mas não acumularam forças o suficiente para ganhar hegemonia. Talvez essas três propostas poderiam nos salvar, mas teremos tempo hábil? Bem dizia Gramsci: “o velho não acaba de morrer e o novo custa em nascer”. Não se desmonta uma cultura de um dia para o outro. Quem está acostumado a comer bife de filé dificilmente se resignará a comer ovo.

Meu sentimento do mundo diz que vamos ao encontro de uma formidável crise generalizada que nos colocará nos limites da sobrevivência. Apenas quando a água chegar aos nossos narizes é que vamos fazer de tudo para nos salvar? Possivelmente seremos todos socialistas, não por ideologia, mas por necessidade: os parcos recursos naturais serão repartidos equanimemente entre os humanos e os demais viventes da comunidade de vida...

Santo Agostinho sabiamente ensinou que dois fatores ocasionam em nós grandes transformações: o sofrimento e o amor. Devemos aprender agora, já, a amar e a sofrer por esta única Casa Comum a fim de que possa ser uma grande Arca de Noé que albergue a todos. Então será, sim, a Terra da Boa Esperança, um sinal de um Jardim de Éden ainda por vir.

Leonardo Boff da Comissão da Carta da Terra.



"oCriador diz: Vende-se bola azul, 6 bi de anos de uso, milhões de espécies incluídas. Grátis um apocalipse. Garantia estendida até 2012.

Ah, não Criador, "tamo" só começando...


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